Mecanismos de proteção do Ego por Sigmund Freud

Este boletim tem como intuito te ajudar a ver o mundo de forma mais clara, sabendo separar o que importa do que não importa, porém em um nível muito mais profundo.

(Adriano Sugimoto)


Sigmund Freud foi a primeira pessoa dos tempos modernos a buscar uma categorização das personalidades humanas de forma sistemática. Criador da psicanálise, a primeira forma de psicoterapia, ele gerou conhecimentos que até hoje são amplamente estudados; apesar de parte de suas teorias, assim como seu estilo de vida, terem sido amplamente questionados por inúmeros motivos.

Sigmund Freud, genial e controverso. (Hoje em dia esse charuto não seria tão bem aceito)

Sigmund Freud, genial e controverso. (Hoje em dia esse charuto não seria tão bem aceito)

Em sua extensa coleção de artigos e livros, Freud descreve diversos mecanismos de proteção do Ego, que são dispositivos que a mente usa para lidar com situações difíceis, mesmo que ela mesmo não perceba que está fazendo isso. Para esse boletim, separei 3 mecanismos que considero que todas as pessoas utilizam de uma forma ou de outra. Eles não são ruins em si, pois dependem da forma que são utilizados. Aliás, nenhum de nós conseguiria viver sem eles. Lembrando que se trata de uma teoria do Freud, e que existem muitas outras formas de explicar o ser humano, e cada forma tem sua utilidade. Vamos lá?

Projeção

Imagine que você está indo para o trabalho, passa em algum lugar para pegar um café e acaba derramando um pouco na sua roupa, fazendo uma pequena mancha, quase que imperceptível, porém você não para de olhar para ela. Ao encontrar alguém, você discretamente vira-se de uma forma que a outra pessoa não fique de frente para a mancha de café, pois você sabe que aquela pessoa está vendo aquilo e fazendo inúmeros julgamentos sobre você. Já aconteceu algo parecido na sua vida? E quem estava realmente preocupado, você ou a outra pessoa? Quanto você se incomodaria com uma pequena mancha de café na roupa de outra pessoa?

O que está acontecendo aqui é a Projeção. Quando alguém pensa de certa forma, e projeta nos outros seus próprios pensamentos. Quando acredito que os outros estão me julgando de uma forma ou de outra sem ter nenhuma prova concreta, possivelmente esse seja o julgamento que eu mesmo faço de mim, e para conviver com esse “peso” que tenho ao olhar no espelho, acredito que os outros estão pensando daquela forma e não eu. Já ouviu falar que nós só vemos o que prestamos atenção? Quem tem medo de ser assaltado verá um assaltante em cada esquina, quem tem problemas mal resolvidos com sua sexualidade verá perversão sexual em todos que encontrar, quem se preocupa com status verá em todos o julgando de suas posses materiais. Não é possível simplesmente se livrar dessa projeção, pois também é parte do prisma pelo qual vemos o mundo. Porém saber que isso acontece pode ajudar muito, pois, em alguns momentos esse mecanismo de defesa do ego atrapalha nossa vida e de todos à nossa volta.

Deslocamento

Já teve um dia muito difícil no trabalho onde você ficou muito estressado, com vontade xingar todo mundo, mas não pôde se expressar? E depois do trabalho, você volta para casa agindo de forma completamente estranha, sem nem mesmo perceber? Fica estressado, impaciente e desconta nos outros que aparecem na sua frente? Esse é o mecanismo de deslocamento, onde nosso ego transfere seus sentimentos e frustrações para outra pessoa, situação ou objeto, que seja menos ameaçador. Crianças normalmente sofrem muito isso, onde acabam tendo que absorver toda frustração dos pais. Elas são alvo desse mecanismo de defesa por não poderem responder ou não terem a mesma autoridade de um adulto. Ou você teria medo de ser demitido por seu filho?

A pior parte dos mecanismos é serem imperceptíveis para quem não busca o autoconhecimento. Na maioria das vezes, quando algo de ruim acontece no dia, todas as pessoas ao redor sofrem o impacto, por não termos capacidade de manter cada assunto no devido lugar. Muitos divórcios acontecem por causa desse deslocamento; brigas sem fim e sem motivo se instalam devido a motivos externos que não puderam ser expressos e o cônjuge se torna o alvo de toda frustração do indivíduo. Aqui vale lembrar algo importante: Quem está ao seu lado sempre merece mais valorização e cuidado do que todas as outras pessoas, mesmo que a outra pessoa seja o chefe.

Racionalização

Nós tiramos o sapato para entrar em casa; hoje pela manhã estávamos saindo e a Michelle esqueceu a carteira no quarto. Ela correu, mesmo calçada, pegou a carteira, voltou e disse: “meu tênis está limpo, não uso faz muito tempo, então não tem problema entrar com ele”. Esse é um pequeníssimo exemplo de racionalização, e como disse no começo, quase impossível não usá-la com certa frequência. Por exemplo, quando começamos a achar inúmeros defeitos no celular porque queremos comprar outro; ou quando fazemos algo errado e culpamos outras pessoas que não deram suporte. A racionalização é a busca de motivos para dar suporte a algo que queremos ou para nos defender. É muito importante saber usar a racionalização de forma equilibrada. Se por um lado ela nos ajuda a tomar decisões racionais que façam sentido, por outro, também é a grande fonte do fanatismo e preconceitos. Quando atribuímos adjetivos negativos a certas pessoas ou grupos para racionalizar nosso desejo de não ajudar ou até de se opor, corremos o risco de ficarmos presos numa gaiola mental feita por nós mesmos.

Não é preciso ir longe para ver os efeitos negativos desse mecanismo de proteção do ego. O cenário político do Brasil nos últimos anos tem sido um grande exemplo. Com quantas pessoas você já se deparou com ideias fixas, sempre repetindo os mesmos argumentos, mesmo que eles não façam sentido, tudo para dar suporte e ter congruência com o que elas falaram anteriormente? E você? Quais ideias você tem dado inúmeros motivos para continuar pensando da mesma forma, mesmo que lá no fundo saiba que existem ideias melhores que esta? Perceba que, “curiosamente”, esse efeito sempre tende a amenizar nossa culpa e aumentar a do outro, ou seja, depois desses argumentos nós somos os bonzinhos ou injustiçados e os outros são maléficos e injustos.

Conclusão

É impossível se livrar completamente das distorções criadas pela mente, porém, conhecer que elas existem pode nos ajudar muito a saber onde estamos errando sem nem perceber. Aprenda a olhar para si mesmo com um olhar mais crítico que você verá que não são os outros que precisam melhorar e sim você mesmo.

Obs: mas nunca deixe de lutar pelo que é certo e por uma sociedade mais igualitária e sustentável! =D


Minha nota:

Você sabe aproveitar o sol? Nessa terça-feira tivemos o dia mais bonito e mais quente de todo ano. Eu aproveitei como se nunca tivesse visto sol na vida! Acho que realmente damos mais valor para o que não temos, não é verdade?


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Muito obrigado.

Um forte abraço.

E tchau!

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