A Banalização do Mal

Este boletim tem como intuito te ajudar a ver o mundo de forma mais clara, sabendo separar o que importa do que não importa, porém em um nível muito mais profundo.

(Adriano Sugimoto)


Você já passou por uma situação em que algo absurdo aconteceu e te deixou chocado! Mas após algum tempo a mesma situação se repete várias vezes e quando você menos se dá conta, aquilo já se tornou algo tão comum que nem chama mais atenção?

Estava lendo um artigo dos professores Alex Haslam e Stephen Reicher e achei muito interessante a ideia que eles trazem da “banalização do mal” tendo em vista o olhar e as explicações dos famosos experimentos do século passado que fazem o ser humano parecer irrecuperável diante da fatalidade que é sua herança biológica e influência social.

Uma das famosas pesquisas é o “Experimento da Prisão de Stanford”, onde um grupo de voluntários foi colocado em uma prisão simulada e tiveram atribuídos os papeis de prisioneiro ou guarda. Este experimento pretendia avaliar o comportamento social das pessoas quando atribuídos um papel para interpretar durante o período de duas semanas. Bem... o resultado não poderia ser pior, em pouco tempo a agressividade dos guardas de mentira, xingamentos e punições estavam em níveis tão altos que o experimento teve quer ser encerrado em 6 dias. Como pessoas comuns podem se tornar tiranos?

Veja como existe uma semelhança com as informações que nos chegam frequentemente pelas mídias ou por conversas que temos, onde pessoas causam muito mal às outras aparentemente a troco de nada ou por motivos banais (mesmo que o mal causado nunca possa ser realmente justificado, na minha opinião). E nós, quase sempre, acabamos entrando nesse jogo e começamos a analisar os motivos de coisas absurdas chegando muitas vezes a conclusões de que... “o agressor até que teve razão.”

A exposição contínua à atrocidades faz com que nós percamos a sensibilidade e noção de moral sem perceber o quão errado estamos. Trata-se de uma cegueira completa, onde a pessoa mantém toda sua habilidade de criação, se esforça muito pelos objetivos, criando estratégias e metas. Mas sem perceber que o produto final pode ter algo ou até ser completamente imoral. Haslam e Reicher utilizam o exemplo de Adolf Eichmann, o responsável pela logística do extermínio dos judeus durante o nazismo. Eles comentam sobre um livro publicado alguns anos depois por Hannah Arendt analisando o comportamento de Eichmann perante o tribunal em que foi julgado. Arendt o descreve como um assassino mecânico, que matava sem nenhum questionamento, que tinha perdido toda sua capacidade de discernimento moral e se encontrava obcecado pelos detalhes do genocídio.

Eu sei que você tem completa noção do horror que foi o nazismo e que isso é completamente imoral. No momento atual o que quero te sugerir é que veja como esse modo de pensar (de forma mais sutil) pode estar entranhado em você e ao seu redor sem ser percebido. Isso acontece quando planejamos meticulosamente como revidar a um ataque, quando detalhamos planos para desfavorecer alguém ou quando criamos formas para obtermos vantagens individuais em detrimento aos outros. Ver isso em si mesmo é muito difícil, se você consegue enxergar isso em você, parabéns por toda essa evolução! O mais fácil é olhar ao redor e perceber as situações onde as pessoas estão tão engajadas em seus planos pessoais que deixam de fazer o mínimo de avaliação moral da situação.

Meu convite é que você aperte o botão “reset” do seu entendimento de certo e errado e comece a analisar mais meticulosamente os porquês você faz o que faz. Com a constante exposição a situações trágicas, imorais, catastróficas etc. acabamos aceitando sem questionar muitas coisas, seja na família, no trabalho ou na política, e muitas delas permanecem com julgamentos completamente distorcidos. Sei que nunca iremos consertar tudo de uma vez, mas isso não significa deixar de perceber os erros e deixar de tentar fazer o melhor quando possível.

A exposição contínua ao mal pode nos fazer ter a impressão de que tudo isso é normal, tornando-se algo banal. Mas tenha certeza que normalizar o mal não é algo banal e sim o genocídio que fazemos de nós mesmos.

Referências:

Haslam, S. A., & Reicher, S. (2007). Beyond the banality of evil: Three dynamics of an interactionist social psychology of tyranny. Personality and Social Psychology Bulletin, 33(5), 615–622.

Arendt, H. (1963). Eichmann in Jerusalem: A report on the banality of evil. New York: Penguin.

Zimbardo, P. (1989). Quiet rage: The Stanford prison study [video]. Stanford, CA: Stanford University.


Minha nota:

Você julga os outros da mesma forma que julga a si mesmo? Seja sincero…


Quer entrar para minha lista e receber o boletim #CONSCIÊNCIA no seu email assim que sair? Inscreva-se em: adrianosugimoto.com.br é de graça!

Muito obrigado.

Um forte abraço.

E tchau!

Anterior
Anterior

Liberdade para que te quero

Próximo
Próximo

10 formas de amar a si mesmo