Por onde começa a compreensão?

Este boletim tem como intuito te ajudar a ver o mundo de forma mais clara, sabendo separar o que importa do que não importa, porém em um nível muito mais profundo.

(Adriano Sugimoto)


É possível alguém ser compreendido antes de compreender o outro?

O livro que estou lendo no momento é a Pedagogia da Esperança de Paulo Freire. Nele, Paulo relata um momento em que preparou uma palestra nos mínimos detalhes para convencer os pais de alunos a não utilizarem os pesados castigos de antigamente, como ajoelhar sobre o milho ou amarrar a criança a uma árvore. A palestra correu bem, até que um senhor pediu a palavra e fez Paulo ver que algo estava errado. Este homem foi capaz de descrever com precisão como era a casa de Paulo, sem nunca a ter visto, ressaltando todo o conforto que ele possuía; e colocando em perspectiva, descreveu sua realidade. Recursos escassos, uma casa com apenas um cômodo, crianças sem o que comer e sem o que vestir, era o que aquele homem vivia todos os dias. Este foi o momento em que um dos maiores influenciadores da educação no mundo se deu conta de que é preciso muito mais que palavras bonitas para educar alguém.

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Cada um de nós é um especialista em nossa própria realidade, porém um principiante da realidade do outro. Na ilusão de achar que sabemos o que é certo e melhor para todos, nos deixamos levar pelo ímpeto de querer que o outro aprenda “o que nós sabemos”, sem perceber que é muito provável que nosso conhecimento não faça sentido no mundo do outro. No jogo do ego que se sente satisfeito ao concluir que convenceu o outro, ninguém ganha de verdade, pois cada um olha apenas para dentro de si mesmo. Sem as referências do mundo externo, ficamos presos em uma gaiola que nós mesmos criamos.

Ouvir

Essa semana recebi um elogio de um inglês, que me disse que eu era uma pessoa que sabia escutar de verdade. Imagina… eu que nem tenho um inglês nativo, posso ser alguém que escuta melhor que a média dos ingleses? Bem... de acordo com ele, sim.

Talvez uma das coisas que todos no mundo mais buscam é serem ouvidos. Muitos são os que querem falar, mas poucos querem ouvir de fato. É fácil ver que a conta não fecha e o resultado é uma disputa eterna de quem terá a palavra no próximo instante. A conexão criada por ouvir pode ser vista como algo ativo, pois ouvir pode ser mais trabalhoso que falar. Sendo assim, quem ouve profundamente alguém, também está falando, e talvez até esteja expressando mais conhecimento do que quem fala. Você já aprendeu algo na vida com alguém que só te escutou? Bem... se aprendeu é porque esse escutar não era “só” escutar.

Usar para si muuuito mais que para o outro

Tenho certeza de que você tem muitas noções do que é uma conduta apropriada para a sociedade. Talvez você não tolere pessoas arrogantes, barulhentas, espaçosas e por aí vai. Uma vez aprendi no coaching que quem cobra algo de si, também irá cobrar o mesmo do outro; ou seja, uma pessoa pontual irá cobrar pontualidade do outro. Somente anos depois, percebi que esse é um comportamento de muito baixo nível, quase que um comportamento infantil. Pois quem tem consciência de si e do outro, sabe a diferença que há entre a execução por si mesmo e a execução pelo outro. Peço licença para dar um exemplo próprio: eu sou vegano, mas isso não significa que eu deva esperar que outras pessoas se tornem também, muito menos querer convertê-las de alguma forma. Como vegano, devo buscar ter consciência de que o que eu faço é porque eu acho correto e a influência que me cabe no mundo deve bastar para que eu dê continuidade ao comportamento que acredito ser correto. Analogamente, se tenho como “valor” a pontualidade, posso analisar muito bem minha capacidade de gerenciar o tempo; e eu não ser a pessoa atrasada já deve me bastar. Não seja a pessoa que chega cedo somente para criticar quem chega depois, compreende?

Obs: Isso não significa que não devemos lutar por um mundo melhor, apenas que não devemos impor nossos pontos de vista puramente individuais (disfarçando-os de coletivo).

Curiosidade

Ao invés de querer convencer alguém sobre algo, não seria muito melhor compreender o porquê aquela pessoa pensa daquela forma? Não existe muito mais informação, beleza e conhecimento aí do que em querer forçar goela abaixo sua própria opinião? Conforme vamos caindo na rotina do dia a dia, é muito comum que percamos o olhar de curiosidade perante àquilo que vemos todo dia. Perceba como a primeira vez que você vê alguém é muito diferente da décima.

Eu atribuo a falta de curiosidade à falta de perguntas. Se não quero saber algo de alguém, provavelmente não irei me esforçar para isso. Você sabe o porquê aquela pessoa pensa diferente de você? Sabe qual sua história de vida? Existe algo muito impactante que a fez pensar assim? E ela não tem o direito de pensar assim?

Na espontaneidade e curiosidade de uma criança podemos ver todos os atributos que buscamos nos outros e raramente encontramos. Temos uma tendência a nos aproximar e interagir com crianças de uma forma muito mais fácil do que um adulto porque não esperamos nenhum julgamento ou hostilidade por parte delas. Já com adultos é muito comum nos aproximarmos com “o pé atrás”.

Então eu te pergunto: os outros não te entendem ou você não entende os outros?


Minha nota:

Até a próxima segunda-feira! Uma excelente semana para você!


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Muito obrigado.

Um forte abraço.

E tchau!

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