O sorriso mais belo

Este boletim tem como intuito te ajudar a ver o mundo de forma mais clara, sabendo separar o que importa do que não importa, porém em um nível muito mais profundo.

(Adriano Sugimoto)


Esta segunda-feira foi primeiro dia desde dezembro em que os restaurantes puderam abrir aqui em Londres, no momento somente com mesas ao ar livre. Eu e a Michelle fomos tomar um café na rua e tivemos o privilégio de presenciar uma situação a qual irei descrever aqui para você.

Estávamos sentados do lado de fora do café, em uma mesa de canto. Uma pessoa passando pela rua, se aproxima de outra mesa, onde um homem de cerca de 30 anos acabara de sentar-se com seu café, e lhe pede um trocado. O homem diz não ter nenhum dinheiro, mas oferece seu porridge (um tipo de mingau de aveia famoso aqui), o pedinte aceita, anda alguns metros, para, e começa a comer, ali mesmo, em pé. Presenciei o mundo daquela pessoa parar de girar e ela viver intensamente o breve momento de sua refeição, como se nada mais no mundo existisse além daquele mingau de aveia. Passado pouco mais de um minuto, seu mingau termina, ele volta-se para trás em direção daquele homem que havia lhe oferecido o alimento, e com o sorriso mais belo do mundo, com o sentimento de mais profunda gratidão que uma pessoa pode ter, esta pessoa, um homem, também com cerca de 30 anos, agradece ao seu benfeitor daquele instante. O evento dura muito pouco, e logo o vejo distante colocando delicadamente o pote no lixo e ao sair reparo no benfeitor dentro do café comprando outra refeição.

Anjos

Presenciar esse ato de bondade me fez ter ainda mais certeza de que o mundo, apesar de tantas dificuldades, problemas e maldade, possui anjos anônimos que fazem o planeta Terra ser um lugar melhor. Pessoas que são capazes de oferecer ao outro, não somente aquilo que sobra, mas também aquilo que eles mesmos querem para si. Sua própria refeição sendo oferecida ao desconhecido como um ato de igualdade entre dois seres humanos. Quando pensamos em doação, muitas vezes nos vem a cabeça que deve ser algo simples, algo mais barato, básico, simplesmente para que o outro tenha algo para comer e vestir. Poucos são os anjos capazes de oferecer ao outro o mesmo que busca para si mesmo, de repartir sua refeição comprada no local que ele mesmo aprecia, da mesma forma que faria para um membro querido de sua família consanguínea.

A busca da felicidade

Todos vivemos em um pequeno mundo que criamos para nós mesmos. Somos uma pequena porção de ideias, sentimentos e valores que decidimos alimentar em nosso íntimo. Este mundo sempre será pequeno, pois em nossas 24 horas diárias não é possível olhar para todos aspectos da vida de igual forma; sempre que olhamos para a direita estamos abrindo mão da esquerda, de cima, de baixo, de trás. Na busca fundamental do ser humano por ter sentido e ser feliz, caímos frequentemente na armadilha dos pequenos prazeres individuais que alimentamos, que são de curta duração e têm o efeito de uma droga, vicia seus usuários. Quando buscamos um celular novo, roupa nova, melhor salário, uma casa maior, etc., sempre haverá logo depois um referencial nos dizendo que o atingido não basta. Será um celular mais moderno, uma nova moda, o colega de trabalho que ganha mais, a casa do vizinho, etc., que logo trazem de volta o sentimento de inferioridade e a necessidade de algo mais.

Será que existe algo que não desvaloriza com o tempo e que é capaz de trazer felicidade sendo sempre da mesma forma? Seria possível eu ser feliz com um celular de flip (aquele de dobra, lembra?)?. Acho que sim... a cena que presenciei, me trouxe muita alegria por observar, proporcionou um sorriso de mais puro contentamento e gratidão ao beneficiado, e imagino que ao benfeitor tenha sido uma sensação que um bem material não seria capaz de proporcionar; uma refeição comprada para si mesmo não traz a alegria de uma oferecida a outrem. Para demonstrar a eficácia desde método, poderíamos pensar que não é algo possibilitado pelo século 21; mas poderia ter ocorrido a mil, 2 ou 3 mil anos atrás que o mesmo efeito estaria presente. Talvez nossa tendência atual ao individualismo até aumente os benefícios desse tipo de “busca da felicidade”.

Nada em troca

Caridade é o ato de fazer algo para ajudar alguém sem receber nada em troca. Aquela pessoa que ajudou ao seu semelhante não será homenageada por sua bondade e benevolência; não terá nenhuma vantagem social por isso, pois estava sozinho e nenhum de seus conhecidos presenciou o ocorrido; nem sequer um dia saberá que esse texto foi escrito em sua homenagem. Porém, não receber nada em troca somente é verdade de acordo com o prisma individualista e egoísta da sociedade. O mundo externo pode não reconhecer a grandiosidade desse feito, porém o que seria isso quando comparado ao mundo interno? Pois não é do lado de dentro que sentimos tudo que vem de fora? Esse anjo momentâneo recebeu todos benefícios do alinhamento de consciência que o faz ser consistente com o fluxo da vida. O profundo sentimento de ter respondido a uma solicitação de um companheiro de vida e não ter simplesmente ignorado. A gratidão eterna de uma alma que teve seu sofrimento aliviado naquele momento. Muitos de nós passamos a vida em busca de solução para nossos problemas, em forma de remédios, consultas, mentorias, mas deixamos de lado soluções muito mais eficazes e duradouras.

Meu desejo

Talvez para aquela pessoa, seu próprio feito que me marcou tanto, tenha sido somente mais um dia comum de vida. Sei que eu talvez não fosse capaz de responder da mesma fora, assim como imagino que você não responda para o mundo sempre da forma mais angelical possível. Mas isso não significa que esse desejo de bondade deva ser reprimido dentro de nós. Essa pessoa anônima se tornou alguém pela qual tenho profunda admiração e respeito, que nunca irei ver novamente na vida, mas tenho como um símbolo a ser seguido. Desejo que você consiga passar por cima do seu desejo egocêntrico de relativizar tudo às suas próprias medidas, e possa simplesmente admirar e se inspirar nas pessoas que agem de formas melhores que nós. É o que desejo para mim mesmo.


Minha nota:

Nunca deixe de se perguntar o que é correto na vida. E quando encontrar alguma resposta, questione se isso é realmente certo ou errado. Depois, questione novamente. O que vale na vida são muito mais as perguntas do que as respostas, pois as respostas verdadeiras vêm de camadas mais profundas que não podemos traduzir em palavras.


Quer entrar para minha lista e receber o boletim #CONSCIÊNCIA no seu email assim que sair? Inscreva-se em: adrianosugimoto.com.br é de graça!

Muito obrigado.

Um forte abraço.

E tchau!

Anterior
Anterior

Nosso amor pelo estigma

Próximo
Próximo

Pontos para reflexão durante a pandemia