O que faz um relacionamento ser difícil?

Sabendo que você é um ser humano, algo que tenho certeza sobre sua vida é que você possui diversos relacionamentos no dia a dia.

Sabendo que você é um ser humano, algo que tenho certeza sobre sua vida é que você possui diversos relacionamentos no dia a dia. Seja com membros da família, amigos, colegas de trabalho ou até na padaria onde você compra seu pão diariamente. E com esses relacionamentos – exceto se você for um ser altamente evoluído – vêm conflitos, discussões e desentendimentos, mesmo que eles fiquem apenas dentro da sua cabeça. Você nunca teve um pensamento do tipo: “Não acredito que aquela pessoa fez isso comigo! Que falta de consideração!”?

Eu não vou conseguir resolver seus problemas de relacionamento apenas neste texto, mas gostaria de trazer um pouco de combustível para seus pensamentos, algo que pode levar a reflexões interessantes sobre como você pode influenciar sua interação com as pessoas à sua volta.

 

 

Tudo vem do ego

 

A palavra ego é muito conhecida, mas muito mal compreendida. Isso também se deve ao fato de que cada um atribui ao ego um significado diferente, podendo variar desde a definição de Freud, como um dos três componentes da psique humana (id, ego, superego), até uma definição mais espiritual, como a do budismo, que vê o ego como uma ilusão criada pela mente para definir a si mesmo.

Algo a que tenho me dedicado muito nos últimos meses é compreender melhor como criamos as ideias e pensamentos que temos e o quão reais eles realmente são. Mesmo que não exista uma resposta completa e definitiva – peço desculpas por te desapontar – saber que nossas frustrações são criadas pela história que contamos a nós mesmos pode ajudar a escapar das garras implacáveis do ego.

Quando o assunto é relacionamento, o ego é aquela voz interna que conta uma história sobre o quanto eu valho, o quanto as pessoas gostam de mim, o quanto o mundo é justo comigo, o quanto eu mereço atenção, etc. Sendo assim, quando encontramos alguém – mesmo que apenas dentro da nossa cabeça – estamos, na verdade, enxergando uma história que nós mesmos criamos, na qual necessariamente precisamos obter algo daquela relação. O ego sempre deseja obter coisas como: respeito, admiração, destaque social, bens materiais, percepção de segurança e até “amor” (mas esse amor não é o amor real).

Não significa que o ego seja necessariamente ruim, e que precisamos nos livrar dele completamente para vivermos razoavelmente bem. Mas ele pode sair do controle, e o descontrole do ego pode ter um preço muito alto em nossas vidas.

Para te dar algo para refletir, separei três pontos que podem sair do controle se deixarmos o ego agir livremente:

 

Desejo de controle


Você gosta que as coisas sejam feitas sempre do seu jeito? Nós temos, naturalmente, a tendência de preferir nosso modo de fazer as coisas, pois é assim que nos sentimos mais confortáveis. Porém, isso começa a sair do controle quando vemos alguém fazer algo diferente e achamos que aquilo está errado, ineficiente, impróprio ou de mau gosto – e isso nos causa frustração e nos faz querer forçar o outro a aceitar nosso jeito. Isso acontece porque o ego reforça sua sensação de superioridade quando faz o outro reconhecer o próprio método como o melhor.

 

Carência emocional

 
Se o atendente da padaria não nos trata bem, podemos acabar reclamando com o gerente, difamando a padaria ou nunca mais voltando a comprar pão naquele lugar. Esse é o efeito do ego, que se sente atacado quando o outro não o valoriza como gostaria. Mesmo que o atendente trate todos os clientes da mesma forma e definitivamente não seja algo pessoal (aliás, nunca é pessoal! Falaremos sobre isso em outra oportunidade), nos sentimos diminuídos de certa forma, como se nossa identidade tivesse sido abalada e fosse necessário fazer algo para que isso não aconteça novamente, ou para remediar o “problema”. O que você acha?

A padaria é só um exemplo que se estende para toda e qualquer situação em que queremos que o outro valide quem acreditamos ser ou gostaríamos de ser. E, quando isso não acontece, entramos em um modo de raiva, indignação, tristeza, depressão, etc., como se isso fosse resolver alguma coisa. Ao final, podemos acabar em um completo caos e ainda sem o que buscávamos originalmente – ou seja, o pão. E nem percebemos que o objetivo original da padaria era simplesmente vender pão, não reforçar nosso senso de identidade egóica.

 

Proteção

 
Nossa sociedade atual tem inúmeras formas de aumentar a proteção das pessoas. Se você já trabalhou em uma fábrica, por exemplo, sabe que o EPI (Equipamento de Proteção Individual) é algo essencial – ninguém pode sequer entrar em certas áreas sem ele. Da mesma forma, estamos cercados de sistemas de proteção sem percebermos. Os carros estão cada vez mais seguros, com airbag, freios ABS, absorção de impacto. Edifícios têm alarmes e sistemas de contenção de incêndio, trens não se movem com portas abertas; a lista é praticamente infinita.

Porém, toda proteção atual é pouca para o ego, que quer garantir a qualquer custo que nada de ruim que ele possa imaginar aconteça. Por exemplo, se você tem um filho e costuma imaginar ele caindo de uma árvore, provavelmente nunca vai deixá-lo subir em uma, sem perceber que todo seu medo está sendo transferido a ele ao limitá-lo.

Em relação às pessoas, o ego está sempre tentando se proteger física e psicologicamente, pois o outro é sempre um perigo iminente. Lembro que visitei vários apartamentos buscando um lugar para minha mãe morar, no final do ano passado, após o falecimento do meu pai, e todos tinham sistemas de segurança, reconhecimento facial, cerca elétrica, e muito mais. Literalmente, uma prisão criada para quem mora lá se sentir “seguro” – mas que, em si, é o maior gerador de insegurança, pois te lembra o tempo todo que as pessoas ao redor são “perigosas”; por isso ninguém entra sem mostrar documento de identidade e ter a foto registrada. As formas de manter o outro longe ou sob controle estendem-se de diversas formas e vão desde frases agressivas, locais reservados, até armas e guerras.

Como você acredita que podemos ter um bom relacionamento com as pessoas se precisamos nos proteger delas? Aqui deixo espaço para sua reflexão.

Sobre minha mãe, felizmente a sabedoria dela foi maior, e ela acabou continuando a morar na mesma área com as pessoas que conhece há décadas, sem sistemas de segurança, mas com muito mais qualidade de vida e saúde mental.

 

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Publicado em 29 de maio de 2025

Categorias: : Inteligência Emocional, Reflexão, Relacionamento

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