O preço da vergonha

Este boletim tem como intuito te ajudar a ver o mundo de forma mais clara, sabendo separar o que importa do que não importa, porém em um nível muito mais profundo.

(Adriano Sugimoto)


Um dia escutei a seguinte definição de vergonha: É o resultado de quando queremos demonstrar que somos de um jeito, mas nos apresentamos de outro para o mundo. Por exemplo, quero ser uma pessoa equilibrada, porém perdi a paciência com alguém em determinado momento. Ou quando procuro sempre manter a aparência séria e alguém do trabalho me vê fantasiado na rua durante o carnaval. Lembro que quando vi essa definição achei muito interessante e que fazia bastante sentido. Com essa inspiração, quero trazer para você no boletim de hoje uma reflexão sobre a expectativa que temos de nós mesmos, como nos mostramos ao mundo e quais são as consequências de quando não sabemos lidar bem com a diferença entre um e o outro.

As nossas expectativas

Você tem expectativas na vida? Bem... eu tenho muitas e acredito que você tenha pelo menos algumas. Nós crescemos cercados de expectativas, seja de tirar uma boa nota na prova, de ser educado, de ter uma profissão que ganhe bastante dinheiro, de formar uma família, e por ai vai...

Existe dentro de cada um de nós uma ideia do que seria a pessoa ideal. Um profissional ideal, pai ou mãe ideal, filho, cidadão, companheiro, etc. Criados através dos conceitos que aprendemos ao longo da vida. Provavelmente você se lembre de algo que alguém dizia sobre o que é certo e o que é errado; talvez algo relacionado à conduta, às palavras, à roupa, etc. E até hoje esses conceitos aparecem na sua mente, como juízes que estão sempre te julgando e limitando.

É da nossa natureza – ou seja, do ego – buscar satisfazer esses quesitos em todas nossas demonstrações ao mundo externo, sempre comparando a pessoa que desejamos ser com...

O que achamos que mostramos ao mundo

Você acha que sabe o que os outros pensam de você? Tem certeza? Para analisar isso poderíamos fazer o contrário, pense em uma pessoa mais ou menos próxima da qual você tem uma certa opinião (o exercício funciona melhor com uma opinião levemente negativa); agora tente imaginar o que aquela pessoa pensa que você pensa dela. Você acha que o outro sabe exatamente o que passa na sua cabeça? Acredito que você consiga perceber que: o que penso de alguém e o que o outro acha que penso sempre são coisas diferentes. O grande problema é que pensamos que sabemos a opinião do outro e muitas vezes pautamos nossa vida nessa opinião imaginária.

Quando comecei a gravar vídeos, me sentia muito desconfortável, pois ficava julgando minha aparência, minha voz (muito lenta), minhas palavras. E estranhamente o problema não era o que eu achava e sim o que acreditava que os outros iriam pensar. Algumas pessoas reclamaram sim, é verdade, porém a grade maioria gostou e me incentivou muito. E mesmo assim as críticas parecem ter muito mais peso do que os elogios... por quê? Nós somos seres obrigatoriamente sociais, pois nunca teríamos chegado até aqui se não fosse pela habilidade de viver em harmonia em um grupo. Sendo assim, os seres que se preocupavam mais com a opinião do outro sobreviviam mais pois tinham a força do grupo ao seu lado. Pelo outro lado, quem não mantinha coesão com o grupo, acabava excluído e morria de fome ou era devorado por um leão. Essa é uma característica da evolução que hoje em dia pode nos atrapalhar muito.

Um outro ponto é que na verdade as pessoas se preocupam muito mais consigo mesmas do que com os outros. Quem critica muito alguém, está na verdade se protegendo da projeção daquilo na sua própria mente. Lembra que nós falamos sobre isso no boletim “amor pelo estigma” há 2 semanas? Veja se faz sentido: nos protegemos do que os outros falam, que na verdade é mais sobre eles mesmos do que sobre nós. É incrível como tudo parte do imaginário, porém as consequências são muito reais.

As consequências

Já ouvi inúmeras vezes pessoas dizendo: “Tenho pavor de câmera! Quando tento filmar algo, travo na hora!”. É muito interessante como a presença de uma câmera pode transformar o comportamento do ser humano. Seria ótimo que esse efeito fosse somente diante de ser filmado, porém isso acontece constantemente sem nem nos darmos conta. Pode ser visto ao escolher uma roupa mais “discreta”, com cores “neutras”, quando na verdade gostaríamos de usar muitas cores alegres! Quando não compartilhamos uma ideia com medo de críticas. Quando evitamos nos envolver em atividades ou com outras pessoas com medo do que os outros vão pensar. É como viver numa prisão onde somos ao mesmo tempo os prisioneiros e os guardas. Nos julgamos muito, antes de nos colocarmos a mostra para sermos julgados de fato; muitas vezes desistindo de tudo para fugir do julgamento. Fazemos isso porque aprendemos a ser assim, pois dessa forma a vida seria mais “segura”. Porém ninguém disse que também seria mais “triste”.


Minha nota:

Até hoje, gravar vídeos não é algo tão natural assim e acho que nunca será. Sempre existe uma certa apreensão ao ligar uma câmera apontada para mim. Porém me acostumei com isso! Agora sei ouvir minha própria voz, mesmo achando estranho, sei me ver errando as palavras, sei me ver travado sem saber o que dizer. Assim eu acho que é a vida; não se pode esperar a vergonha acabar ou lutar contra ela como se fosse uma batalha. É melhor aceitar, conhecê-la melhor e tornar-se sua companheira. A vergonha nunca vai deixar de existir, por isso, é muito melhor que ela faça parte da sua luz do que da sua sombra.


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Muito obrigado.

Um forte abraço.

E tchau!

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