Liberdade de verdade

Este boletim tem como intuito te ajudar a ver o mundo de forma mais clara, sabendo separar o que importa do que não importa, porém em um nível muito mais profundo.

(Adriano Sugimoto)


Desde os primórdios o ser humano tem uma relação complexa com a noção de liberdade. Após deixar de ser um caçador/coletor, passando a manipular plantações e animais, os humanos começaram a demarcar terras e dar nomes aos papéis de cada um, criando um novo conceito: “A Liberdade”. Não existia antes porque um conceito só pode existir quando seu oposto se faz presente. Assim como não existiria o conceito de dia se não fosse pela noite, liberdade só passa a fazer sentido quando se tem alguma noção de “restrições”.

Fonte na Russel Square (Londres)

Fonte na Russel Square (Londres)

Liberdade no contexto social é algo que vem sendo discutido no mínimo desde Sócrates, que preferiu a morte que abrir mão dos próprios pensamentos. E essas restrições sociais nos direcionaram a sempre focar na ideia de liberdade no meio externo, ignorando a prisão que se fez em nossas mentes, muitas vezes maior do que qualquer restrição imposta localização geográfica ou poder aquisitivo.

Observação: nunca devemos deixar de debater e lutar por liberdade no contexto social! Ela apenas não será o foco aqui.

Semana passada encontrei no Instagram um trecho do livro “Uma mente clara” (a clear mind) de Yung Pueblo (@yung_pueblo) que dizia o seguinte:

Perguntaram a ela,

“O que é liberdade real?”

Ela respondeu,

“Liberdade é a clareza mental combinada com paz interior. Liberdade é quando você pode ver sem projetar e quando você vive sem causar para si mesmo tensão e estresse desnecessários. Acontece sempre que você não está desejando mais. Felicidade e liberdade são uma só.”

Um termo muito utilizado atualmente é “liberdade financeira” que em muitos meios basicamente significa não precisar trabalhar para pagar as contas. Porém, muitas dessas pessoas retiram justamente do trabalho o mínimo de motivação e força para continuar em movimento na vida. Já vi inúmeros casos de pessoas que passaram a vida toda pensando na aposentadoria, mas quando de fato chegou a hora, o novo estilo de vida não trouxe mais do que uma vida sedentária e sem motivação para viver. Isso porque a busca de liberdade financeira nunca se atentou para a falta de liberdade mental.

O que seria de nós sem uma televisão, um celular, um computador, um livro, uma tarefa, uma conta para pagar, uma pessoa para conversar ou uma notícia revoltante para discutir? Restaria algo? Seriamos capazes de viver sem todos esses estímulos que nos cercam? O que acontece quando um ser humano é desafiado a encarar a si mesmo e nada mais?

Nesse boletim apenas quero te lembrar que liberdade mental é importante, e talvez seja a que menos trabalhamos em prol; pois nunca vi alguém estabelecer metas para a própria liberdade mental. Seria muita pretensão minha dizer que vou te ensinar isso aqui; trata-se de algo que leva uma vida inteira, talvez até mais de uma vida, pois algumas pessoas chegam ao fim ainda sem aprender o que isso significa. E eu mesmo acho que tenho ainda somente uma breve noção do que seria essa tal liberdade mental.

Quando temos a capacidade de observar nossos próprios pensamentos, conseguimos ter uma ideia do material que as paredes dessa prisão são feitas. Observe tudo que direciona seus pensamentos e emoções de uma forma tão irresistível que se torna imperceptível. Como desejar algo sem perceber o quão irracional ou impróprio esse desejo é.

Algumas de nossas paredes mais comuns são:

Vergonha

Vergonha está ligada ao medo do julgamento e a restrições que fazemos a nós mesmos quando achamos que outros irão nos julgar de modo negativo. Isso ocorre desde situações do dia a dia, como a roupa que utilizamos até situações que definem grande parte de nossa vida, como profissão ou preferência sexual.

Neste momento estou sentado em frente a uma fonte (veja foto acima), onde normalmente as crianças vêm brincar e entram na água. Aqui, nunca vi nenhum pai ou mãe sequer molhar os dedos na água; quase como se existisse uma regra social que impedisse os mais velhos de brincar na água. Regra que sim, existe! Mas está tão entranhada na mente de todos que achamos que adultos simplesmente não brincam na água e qualquer um que o faça será hostilizado em pensamento por todos os outros. Confesso que tive vontade entrar na água de roupa e tudo, mas não tive coragem; tudo que fiz foi molhar as mãos. Se eu tivesse um filho, espero que eu seja capaz de brincar na água até mais que ele.

Sensação de segurança

A busca da sensação de segurança é inata ao ser humano. Buscamos segurança como instinto de preservação, desde os tempos das cavernas. Mas quando leões não nos ameaçam mais e a comida agora vem de um supermercado, a necessidade de segurança é transferida para outras áreas através de construções sociais. Os mais comuns são acúmulo de dinheiro, poder, beleza, status, ou qualquer outra coisa que nos dê a impressão de superioridade em relação ao meio em que vivemos. É relativo porque sempre nos comparamos com quem está próximo a nós; por exemplo, em um meio de trabalho, a pessoa que ganha menos pode se sentir mal e inferior, mesmo que seu salário seja maior que 99% da população mundial.

Porém, a sensação de segurança é sempre ilusória. Já ouviu falar de alguém que estava muito bem, mas que de repente ficou mal de alguma forma? Seja a perda de recursos financeiros, a perda da saúde, término de relacionamentos, ou qualquer outro motivo. Se alguém que está bem e de repente fica mal, significa que ela não estava segura de fato anteriormente, não é mesmo? Ou melhor, será que existe essa segurança nos termos que acreditamos? Você pode ver isso apenas como minha opinião pessoal e achar que não faz sentido, pois é contrário ao senso comum, porém, segurança na vida não existe. Conforme disse Sidarta Gautama (Buda): A única coisa permanente na vida é a impermanência! Tudo está sujeito a mudanças e abraçá-las que é o verdadeiro significado de viver.

A impermanência não significa que não devamos buscar ter recursos materiais e algum nível de conforto, mas significa que se basearmos nossa felicidade e identidade nisso, estaremos fadados a encarar frustração em algum momento da vida.

Culpar o mundo

Você acredita mesmo que o culpado de sua infelicidade pode ser o restaurante que te serviu comida fria? Ou o vírus que invadiu seu computador e te fez perder todos seus arquivos? Ou será que seu padrão é esse mesmo e os acontecimentos são apenas desculpas que você dá para não se ver culpado pelo próprio comportamento? A vida nunca estará livre de dificuldades, e nossa prisão é justamente achar que quando todas essas complicações da vida passarem, seremos infinitamente felizes. O que obviamente não vai acontecer!

Mensagem final

Tenha a vida como sua aliada e não como sua inimiga. O velho ditado popular “matar um leão por dia” tem diversos erros. Além do óbvio crime de matar um leão, essa frase nos faz tratar a vida como uma guerra. E em toda guerra, mesmo os “vitoriosos” saem cansados e machucados. Aprenda a admirar e brincar com o leão, sem “matá-lo”, por favor.


Minha nota:

Te desejo muita “liberdade” na vida!


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Muito obrigado.

Um forte abraço.

E tchau!

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