Hoje é o último dia do mês em que se celebra o orgulho LGBTQIA+ e eu não poderia deixar de trazer para você algumas reflexões sobre o tema. Aqui eu
Hoje é o último dia do mês em que se celebra o orgulho LGBTQIA+ e eu não poderia deixar de trazer para você algumas reflexões sobre o tema. Aqui eu falo muito sobre liberdade, e é justamente este o centro da discussão trazida à tona especialmente no mês de junho. E não se trata apenas das pessoas desse grupo, mas também da liberdade mental de todas outras pessoas que podem se ver reféns dos próprios pensamentos e preconceitos.
Minha infância
Eu cresci em um ambiente que acredito ter sido um pouco mais “saudável” que a média, mas mesmo assim a pressão social era enorme para se mostrar “homem”. Isto significava reafirmar constantemente o desejo fixo por meninas através de comentários, muitas vezes maldosos e desrespeitosos, muitas mentiras criadas para se dizer “experiente” e uma lista com o ranking das meninas mais “gostosas” da turma. Qualquer um que se desviasse desse comportamento corria o risco de ser rotulado eternamente como “bicha”, “gay”, “boiola”, etc. Palavras que não são xingamentos em si, porém se tornavam uma grande ofensa naquele contexto, traumatizando crianças por simplesmente não idolatrarem a menina mais “gostosa” da turma. Então, eu te pergunto: onde está a liberdade de simplesmente não se pensar na sexualidade enquanto criança?
Masculinidade mal orientada
Conheço pessoas que tem em mente o papel de “homem” que devem cumprir na sociedade, e esse pensamento é tão forte que sobrepõe a visão do papel de “Ser Humano” que deveria vir antes de tudo. Felizmente, o mundo está mudando de forma muito rápida; eu mesmo nunca escreveria sobre esse tema a alguns anos atrás. Porém muitas pessoas ainda, especialmente da minha geração para trás, carregam ideias muito pesadas e taxativas de sexualidade, como se se existisse um risco de ser percebido como gay ou algo do tipo. Homens cometem 95% dos homicídios no mundo, são os grandes consumidores de pornografia e também são muito mais agressivos que as mulheres. É como uma prisão que a sociedade criou para si mesma, onde o seguir as “regras” tem enormes efeitos colaterais para todos. A repressão generalizada em prol de um formato correto de ser – qualquer semelhança com a política não é mera coincidência – cria pessoas engessadas e incapazes de aproveitar suas próprias capacidades, pois estão presas nesses pensamentos repetitivos de reafirmação social.
As crianças
Eu vejo que as crianças atualmente são muito mais evoluídas e conscientes do que quando eu era criança, graças a um movimento sem volta que é a consciência pessoal e social que todos nós começamos a ter (uns mais, outros menos, né!). Um dos principais argumentos contra a promoção do orgulho LGBTQIA+ é que isso influenciaria a opção sexual da criança, além de despertá-la para a sexualidade precocemente. Mas o que mais influencia precocemente do que uma criança ter que afirmar sua sexualidade desde pequena? Eu fiz muitas visitas em maternidades através de trabalho voluntário e lá pude ver muitas vezes bebês recém-nascidos sendo classificados como potenciais “namorados e namoradas”; ou pior, que dois meninos recém-nascidos deveriam disputar pela menina recém nascida. Com relação a opção sexual, a celebração do orgulho pode ajudar muito por tirar o poder de uma criança xingar a outra de “bicha, gay ou boiola”, fazendo com que a sexualidade não seja mais algo a ser questionado, e finalmente dando às crianças a liberdade de não pensar na sexualidade enquanto ainda não despertarem naturalmente para isso.
Psicologicamente nós temos a tendência de projetar nossos problemas sexuais nas crianças e achar que elas têm intenções sexuais em toda interação com outros. Isso faz com que se veja com maus olhos quando um menino abraça um outro menino, ou que se chame de namorada se ele abraçar uma menina. Criando diversas barreiras até para os próprios pais; eu mesmo só comecei a abraçar meu pai de verdade depois de adulto, quando percebi que esse distanciamento não estava certo.
Diversidade
Você quer ser feliz? Então abrace a diversidade! Não somente relacionada a sexualidade, mas também com todo o resto. Aprenda a apreciar pessoas que tem corpos diferentes, sejam gordas ou magras, altas ou baixas, brancas ou pretas, pessoas com deficiências, classes sociais, religiões, e qualquer outra característica que você possa julgar ao ver alguém. Fazendo isso você irá tirar dos seus próprios ombros o julgamento que você faz de si mesmo e como percebe o julgamento dos outros. Existe tanta vida lá fora para ser vivida que não vale a pena todos esses anos de prisão em conceitos de como pessoas “deveriam” ser.
Postado originalmente em 30 de junho de 2021.
Categorias: : Relacionamento, Sociedade