Somos crianças com medo de um monstro embaixo da cama

Você já se perguntou de onde vêm seus medos? E o que faz com que você tenha certeza com que seus medos são reais?

Você já se perguntou de onde vêm seus medos? E o que faz com que você tenha certeza com que seus medos são reais?

Eu considero que estou no momento eu uma fase muito importante da minha vida, pois estou descobrindo um mundo que eu ainda não conhecia. Um mundo onde a percepção da vida é diferente e o propósito de tudo não é exatamente como eu imaginava antes.

Se alguém me dissesse que meu filho iria morrer algum dia no futuro, eu morreria de medo. Mas agora que meu filho morreu (fisicamente), eu considero que também morri. Mas tive a oportunidade de renascer para começar tudo de novo. Já tendo experenciado a morte de um filho que eu tenho certeza que foi mais difícil do que será minha própria morte, eu já passei pelo pior terror que eu poderia passar nessa vida. Então eu me pergunto: o que resta agora?


Hoje eu li uma analogia que senti necessidade de compartilhar com você: somos como crianças com medo de um monstro embaixo da cama. Sentimos medo do monstro até que alguém nos ensine que o monstro não é real e não temos porque sentir medo. Quando um adulto monstra para criança que o monstro não existe, ela poderá até rir da curiosa situação que é ter medo de um monstro que não existe.

Considero que o medo do monstro tem duas etapas:
1 – a sugestão que o monstro existe e
2 – a manutenção da ideia do monstro
.

1 – Uma criança não inventa por si própria a existência de um monstro embaixo da cama, essa ideia é sugerida por algo ou alguém em algum momento. Seja um filme, uma história ou qualquer outra coisa. Aliás, pode ser medo do escuro, de algum lugar ou de alguém, pois todo medo funciona de forma parecida. E a grande premissa do medo é que ele antecipa algo que pode nos ferir, machucar ou nos privar de algo importante. No caso de uma criança, é fácil ver como que o monstro não existe e ele nunca poderia nos ferir de verdade. Mas como adultos, é difícil ver que nossos medos antecipam algo que também não é verdade e também não pode nos ferir como nossa imaginação sugere.

Eu nunca poderia ter dito isso antes de ver meu filho partir desse mundo, mas agora que eu passei por isso, posso ver que todo o medo que eu poderia ter tido e o medo que tive no início da gestação dele, antecipavam algo que não existiu. E quanto mais eu penso nele, mais eu fico grato pelo grande professor que veio para Terra me ensinar que tudo isso que passamos é para aprender que nada pode nos ferir e o monstro embaixo da cama é uma criação que nós mesmos inventamos e que nos limita, fazendo com que nunca cheguemos a conhecer quem somos de verdade.

2 – O outro ponto é a manutenção da ideia do monstro. Não basta simplesmente uma história, é necessário que ela seja reforçada a todo instante para que continuemos a acreditar nela, caso contrário ela cairia no esquecimento. E a sociedade se tornou muito eficiente em lembrar a todos nós do monstro embaixo da cama a todo instante. Quantas vezes você já ouviu falar sobre crise? Consegue contar? Doenças, violência e tantas outras coisas, grandes e pequenas. Aqui na Inglaterra, um termo que sempre é usado quando alguém está sendo entrevistado na TV é o seguinte: “Com o que devemos nos preocupar?”. Eu não acreditei quando vi isso pela primeira vez, ou seja, isso significa que o objetivo da notícia que dar motivos para os expectadores se preocupem com algo a mais na vida. E veja como funciona: nos seus grupos de pessoas com que você convive, qual é a frequência com que se fala das notícias “preocupantes”?

Todas essas notícias nos fazem carregar nos ombros uma carga de preocupação e medo que vai muito além do que podemos aguentar. Imagine o que é ter medo de tudo que acontece no mundo de uma só vez. E esse foco constante reforça todos os dias que temos um monstro embaixo da cama que pode nos machucar a qualquer instante se pegarmos no sono e baixarmos a guarda. E o resultado disso é: medo, constante e generalizado.

O que quero sugerir para você não é ignorar tudo que acontece no mundo, pois ignorar não faz com que as coisas não aconteçam. Ignorar a condição do meu filho Samuel não teria feito com que ele vivesse. Mas o que sugiro é que você olhe para tudo como simplesmente algo que acontece e que você observa, mas se se alterar. Apenas como observador, pois nada pode te ferir do jeito que você pensa. Creio que você pode não concordar comigo e ser muito firme na ideia que seus medos são muito reais e iminentes. E eu não tenho como te contradizer, nem vou tentar, porque o mundo que você cria é real para você, eu não tenho dúvida da realidade dele na sua percepção. O que estou sugerindo é que você mesmo questione a realidade do que você acha real e se seu monstro é mesmo um monstro e se ele realmente pode te fazer algum mal.

O que eu escrevo aqui são minhas conclusões mais elevadas da vida que tenho até este momento na minha experiência. O que não significa que eu consiga viver por esses princípios a todo instante. Eu ainda me pego com medo de pequenas coisas, muito muito menores que o que passei com o Samuel, mas agora creio que sei puxar minha própria orelha e dizer: “isso não vale tanta atenção e não existe nada para ter medo”.

Publicado em 01 de abril de 2025

Categorias: : Ansiedade e estresse, Inteligência Emocional, Reflexão

Entre para minha lista de e-mails