Se a minha esposa Michelle me falar: - Você não me escuta! E eu responder: - Claro que escuto! Iremos caminhar com certeza para um grande conflito!
Se a minha esposa Michelle me falar: - Você não me escuta!
E eu responder: - Claro que escuto!
Iremos caminhar com certeza para um grande conflito! Você sabe por quê?
Esta semana estou lendo o livro Comunicação Não-Violenta de Marshall B. Rosenberg e fiquei com vontade de te trazer no boletim #CONSCIÊNCIA de hoje o formato que ele utiliza para analisar a comunicação humana e como é sua proposta para melhorá-la. É interessante ver que tudo que sempre falamos aqui se encaixa nesse modelo, ou seja, independentemente do formato, a essência de uma boa comunicação é sempre a mesma.
No nosso exemplo inicial, temos problemas tanto na fala da Michelle quanto na minha. Quando ela diz: “você não me escuta”, há uma confusão entre a fala e a interpretação que ela está fazendo da situação, falta de especificidade e nenhum pedido realmente sendo feito. Eu não escutar é o que ela está pensando de mim, e não algo que aconteceu de fato, que possa ser diretamente considerado. Por isso não há especificidade, ou seja, não está dizendo exatamente onde ou o que ocorreu, seja algo hoje, ontem ou há duas semanas. E o outro ponto é que não há um pedido de fato, por essa frase ela subentende que eu compreenderia que deveria escutar mais e já saberia como fazer isso perfeitamente, mesmo que ela mesmo não tenha dito o que ela quer de fato.
Qual seria então uma frase mais correta? Que tal: - “Percebi que ontem você não lavou a louça conforme eu tinha te pedido(O) e fiquei desapontada com isso(S). Gostaria muito de poder contar com você(N). Você poderia lavar hoje?(P)” Consegue perceber a diferença? Nesta frase temos 4 componentes: Observação(O), sentimento(S), necessidade(N) e pedido(P).
Já na minha resposta: “Claro que escuto”, estou ignorando completamente as necessidades por trás da pergunta dela que podem ter gerado a frase, ou seja, sem nenhuma observação e sem empatia. Uma forma bem melhor de responder seria: “Percebi que você ficou desapontada por pensar que eu não te escuto(O). Sinto que algo está errado(S) e gostaria de melhorar nossa relação(N). Poderia me explicar o que te fez pensar dessa forma?(P)” Nesta resposta novamente há observação, sentimento, necessidade e pedido.
Perceba que as frases sugeridas para substituição são bem mais longas e se atentam em utilizar os 4 componentes de forma clara. Por isso uma comunicação efetiva e harmônica não deve ser econômica com palavras. Lembrando, claro, que falar demais não significa de forma alguma que se está sendo efetivo e harmônico.
Segundo Marshall, os 4 componentes de uma comunicação não-violeta, conforme vimos no exemplo são:
1 – Observação
É muito difícil de conseguirmos observar o que realmente está acontecendo sem julgar a situação. Normalmente iremos classificar e já colocar todo julgamento em nossa fala. São fases como: “Está tudo errado”, “essa pessoa é estranha” ou “esse boletim é ruim”. Perceba que há uma interpretação dos fatos, excluindo os fatos em si. Não dizemos o que não nos agrada especificamente na situação, na pessoa ou no boletim. A capacidade de observar sem julgar é uma habilidade incrível que quanto mais temos mais estamos livres dos problemas que nós mesmos criamos.
2 – Sentimento
Nós sentimos muitas coisas, mas não expressamos isso aos outros. Situação que na maioria das vezes causa um conflito, pois o sentimento acaba sendo o tom da fala e não um componente que deve ser levado em consideração separadamente. Aprenda a expressar seu sentimento como parte da frase sem culpar-se ou culpar o outro por isso, assim quem escuta poderá compreender a motivação da sua fala criar empatia.
3 – Necessidade
Quando conversamos com alguém é comum não deixarmos claro que temos alguma necessidade que gostaríamos que fosse atendida. Seja de ter mais tempo para pensar, ter mais confiança, mais segurança, mais organização etc. Quando o outro não sabe o que estamos buscando também não sabe por que deveria ou não fazer algo.
4 - Pedido
Na nossa frase de exemplo no início a Michelle me diz que eu não escuto, mas o que ela queria mesmo era que eu lavasse a louça. Consegue perceber a grande diferença que existe entre uma coisa e outra. Muitas vezes achamos que o outro sabe o que deve fazer, mesmo que nada seja dito. E isso é um grande erro que pode causar muitos conflitos.
Preste atenção nas suas frases e veja se a forma com que você as constrói possui esses 4 componentes. Uma nova visão pode fazer com que você mude completamente todas suas relações.
Até a próxima!
Um forte abraço,
Adriano.
Postado originalmente em 16 de setembro de 2020.
Categorias: : Coaching, Comunicação, Relacionamento