Comunicação na hora da raiva

Este boletim tem como intuito te ajudar a ver o mundo de forma mais clara, sabendo separar o que importa do que não importa, porém em um nível muito mais profundo.

(Adriano Sugimoto)


Já notou como seu comportamento e seus pensamentos mudam perante momentos em que as coisas não acontecem conforme o esperado? Estou escrevendo esse boletim inspirado em um e-mail que acabei de receber com certos xingamentos da imobiliária perante uma situação que aconteceu no final de semana. Espero que essa história ajude a ilustrar como que criamos situações difíceis para nós mesmos que não fazem sentido ou que nem são grande coisa assim.

No fim de semana, viajei com a Michelle para a pequena cidade de Ipswich no interior da Inglaterra, uma maravilhosa experiência, que se tornou um tour gastronômico diante de tantas opções veganas que encontramos, incluindo um mercado com café e um pub 100% veganos. =D No período que estávamos fora combinei com a imobiliária que eles poderiam entrar no apartamento para fazer a inspeção do gás que deve ser feita todo ano. Ao voltar de viagem percebi que aparentemente a inspeção não tinha sido feita e achei que a pessoa não tinha vindo.

Hoje pela manhã, no dia em que escrevo esse boletim, recebi uma mensagem da agente da imobiliária dizendo que estava desapontada e que nós tínhamos agido de má fé deixando a chave na fechadura do lado de dentro, impedindo que a inspeção fosse realizada. Pude observar claramente na escrita o nervosismo e indignação daquela pessoa. Não é preciso ir muito longe para observar que existe algo errado na história. Se nós estávamos fora e a pessoa tinha a mesma chave que nós, como poderíamos impedir que ela entrasse no apartamento? Só se tivéssemos trancado por dentro e saído pela janela! A porta tem duas fechaduras, a de baixo tinha a chave do outro lado sim, porém estava aberta. Duas situações são possíveis na minha opinião: 1) a pessoa viu a chave na fechadura e já assumiu que não conseguiria abrir ou 2) a chave não era a correta.

Te dei todo o contexto para que você consiga imaginar melhor o que aconteceu e agora vamos detalhar alguns pontos importantes:

O tamanho do problema

Se alguém te perguntasse se você preferiria passar por uma doença ou perder o emprego ao invés de passar por essa situação, acredito que sua resposta seja certamente que é melhor passar por essa situação, pois é algo muito menor, certo? Mas porque nossa reação normalmente não é proporcionalmente muito menor? Desapontamento, raiva, angústia, fúria, tudo por algo pequeno que certamente irá acontecer de novo em outros formatos. Se cada pequena desavença nos fizer perder a alegria de viver, nunca iremos viver de forma completa. Saiba deixar o que é pequeno, pequeno. Senão, quando algo realmente difícil acontecer, provavelmente o resultado será fatalmente o colapso total.

Atacar diante da primeira impressão

Foi interessante ver no e-mail que recebi, a falta de elaboração e reflexão diante da situação. A agente da imobiliária simplesmente me atacou assim que recebeu o relato de quem tentou fazer a inspeção. E não é assim que as pessoas normalmente fazem? Existe pelo menos 10 minutos de reflexão ou pelo menos um cafezinho antes de soltar os cachorros em cima do outro? Uma regra que tenho para mim desde criança é que nunca devo responder no mesmo dia algo que me deixa com raiva. Cheguei a essa conclusão depois de ter passado um dia inteiro com raiva de alguém, mas no outro dia tudo se resolveu e eu nem precisei falar nada. Sorte minha, pois se estivesse falado a situação teria piorado muito. Além disso, a palavra professada não tem retorno, ou seja, o outro sempre vai lembrar do que você disse.

O culpado

No caso dessa semana eu fui o primeiro culpado óbvio do problema, sendo imediatamente apontado como tal. Sua primeira ação diante de um erro costuma ser apontar o responsável? Conforme acredito que tenha te convencido, não fui tão culpado sim, e isso fica evidente diante de uma rápida reflexão. Porém, o que resolve saber quem é o culpado? Seja eu, a imobiliária ou o inspetor do gás, que diferença faz para que o problema seja resolvido e cada um possa continuar sua vida normalmente? Uma nova visita terá que ser agendada e o procedimento feito em outro dia, independente de quão bravo, revoltado, certo ou errado alguém esteja. A busca do culpado distancia as pessoas, tira o foco do que realmente importa e com certeza aflora os nervos de forma negativa. Concentre-se sempre em resolver o problema e depois, caso possível, encontrar formas para que o problema não se repita. Em poucos casos é realmente necessário que o culpado seja apontado, fazemos isso por sermos seres passionais e pouco inteligentes emocionalmente.

Tudo passa

Daqui a alguns meses, dificilmente eu, a pessoa da imobiliária ou inspetor do gás iremos lembrar dessa situação. Outros problemas virão e a turbulência da vida irá continuar na mesma média que sempre esteve para cada um. Pessoas preocupadas irão se preocupar, pessoas nervosas ficarão nervosas, desapontados se desapontarão e por aí vai. Raramente paramos para observar que a dificuldade do momento irá passar e outras virão, num ciclo quase que interminável, assim como tem sido nossas vidas até o presente momento. Saber que os problemas diários são apenas pequenos detalhes quando olhamos para a vida como um todo nos ajuda a colocar tudo em uma real perspectiva e dar o valor correto para cada situação.

A resposta

E como responder a uma ofensa ou quando o resultado esperado não chega? É importante observar que cada ser humano se encontra em um estágio da vida e passa por suas dificuldades específicas. Um grande ensinamento é saber que quando alguém briga com o outro, na verdade está brigando consigo mesmo. Tendo isso em mente, podemos observar que se entramos na mesma vibração e respondemos no mesmo tom, estamos incorporando todos os problemas do outro e misturando com os nossos. Consegue perceber que essa é uma receita para o desastre? Alguém precisa quebrar o ciclo e esse alguém provavelmente é você que está lendo esse boletim, pois já há aí dentro uma fagulha desperta para um nível mais elevado.

Quando respondi ao e-mail, primeiramente tomei bastante cuidado para não revidar prontamente as palavras escritas e sim dizer que compreendo o sentimento de desapontamento. Depois evidenciei que não tinha agido de má fé, com um perfeito álibi que era eu também estar fora e ter exatamente a mesma chave para entrar. Então disse também estar desapontado pois tinha até preparado a casa para que a visita ocorresse de forma adequada, assim me solidarizo com a situação dela. E finalizando com agradecimentos e pedindo para que a próxima visita seja marcada. No e-mail percebi claramente que aquela pessoa tem dificuldades em lidar com as próprias emoções e está apenas projetando sua frustração em mim, assim como deve fazer com outras pessoas. Coube a mim ser quem quebra o ciclo e introduz uma forma de comunicação mais equilibrada.

Cuidado com o direcionamento da raiva

Em momentos de conflito, o mais comum é que direcionemos nossa raiva em direção a uma pessoa ou a um grupo, personificando e amplificando o sentimento. Da mesma forma que podemos criar mais compaixão pelas crianças que passam fome quando associamos ao nosso próprio filho, ao personificar o objeto da raiva em alguém, fazemos com que o sentimento cresça, tornando-se muito maior do que se essa raiva fosse simplesmente direcionada à situação como um todo. Por isso, se for ficar com raiva, que seja da situação e não de quem você acredita que seja o culpado.

Seja um observador

Eu tenho uma ferramenta muito grande ao meu favor que é justamente esse boletim que você está lendo agora. Nele consigo me tornar um observador da situação e imaginar como tudo seria resolvido por alguém externo mais sábio do que eu, já que as emoções atrapalham muito quem se encontra dentro do problema. Meu convite para você nesse último ponto é que escreva ou pelo menos pare para pensar em como se deram os fatos, o que faz sentido e o que não faz, e como seria realmente a melhor forma de agir. A observação faz com que a vida fique muito mais fácil pois a perspectiva muda. Agora, depois de escrever esse boletim para você, tudo está ainda mais claro e vejo inúmeros motivos para ser gentil ao máximo com a pessoa da imobiliária e com o inspetor do gás, pois sei que eles apenas queriam fazer seu trabalho e foram frustrados no meio do caminho. Não cabendo a mim tornar a vida deles ainda mais difícil.


Minha nota:

Desfecho: Na tarde do mesmo dia, agente da imobiliária me respondeu pedindo desculpas várias vezes e confirmando o reagendamento da visita. Em questão de apenas algumas horas tudo já estava resolvido. Às vezes o problema passa mais rápido do que podemos imaginar.


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Muito obrigado.

Um forte abraço.

E tchau!

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