Seria eu vários dentro de um só?

Este boletim tem como intuito te ajudar a ver o mundo de forma mais clara, sabendo separar o que importa do que não importa, porém em um nível muito mais profundo.

(Adriano Sugimoto)


Uma das minhas atividades favoritas é pensar na vida. Por mais estranho que isso pareça e por mais que quanto mais eu pense, mais perdido eu fique, com o passar dos anos uma nova dimensão de conhecimento – ou talvez, sabedoria – se cria e o sentido de tudo no mundo começa a mudar.

Nas últimas semanas, de férias, foi o que mais fiz e aqui te trago algumas reflexões que estão me ajudando a ser cada vez mais eu mesmo. Na viagem que fiz com a Michelle, conhecemos diversas cidades na Inglaterra, encontramos restaurantes simples e maravilhosos, e fomos até a um acampamento vegano. Essa exposição a diferentes estímulos me fez ver coisas que existem dentro de mim que nem eu mesmo sabia que estavam lá. O “ser vegano” por exemplo, é uma parte importante de mim, porém está longe de ser o “eu” completo. Saber lidar e encaixar cada uma das nossas partes é o que faz a vida ser vivida da melhor forma possível.

unsplash-image-auEPahZjT40.jpg

Para estruturar nossa conversa, separei esse boletim em 3 lições principais:

Em cada momento existe uma pessoa diferente

Já se sentiu triste, alegre, magoado, indignado, inspirado, indiferente etc.? Eu acredito que você já tenha experimentado tudo isso e muito mais, não é mesmo? E se eu te perguntar: quais deles era você? Você saberia responder? Muitas vezes temos a tendência de nos associar com o que acreditamos que seja mais nobre e dizer que os outros momentos estávamos fora de nós mesmos. Seu pensamento é assim?

Mas como eu poderia deixar de ser eu mesmo em algum momento? Haveria alguma influência externa que toma meu corpo e tira meu controle? Ou seria eu quem deixa influências entrarem e as culpa depois? O que quero te dizer aqui é que tanto no ápice quanto no vale, é você quem está lá. Não existe um “eu” e um “não eu”, tudo é “eu”. E o mesmo “eu” pode sim estar chorando em um momento e alegre em outro, sem que isso o faça perder sua identidade.

Na minha opinião, identidade é algo tão complexo que nunca caberia em palavras. Não é possível expressar verbalmente tudo que somos. Lembro que neste ano vi uma notícia que mostrava um estudo que o Google fez mapeando o cérebro. Nele, o mapeamento feito de 1 milímetro cúbico do cérebro precisou de 1,4 petabyte de armazenamento – comparativamente, é 5.600 vezes toda capacidade de armazenamento do computador que estou utilizando nesse momento. Levando em consideração que 1 milímetro cúbico é literalmente 1 milionésimo do cérebro, podemos ver que quem somos não cabe em definições simplórias.

A principal lição aqui é aprender que teremos sempre diversas versões de nós mesmos e cada uma delas requer uma atenção diferente e pode ser aproveitada de formas diferentes. Sem que nunca deixemos de ser nós mesmos.

Você é você e não suas expectativas

Você deseja ser uma boa pessoa? Quer ser alguém de sucesso? Ter equilíbrio emocional? Ser um exemplo de pessoa? O que mais?

Todos nós temos em mente – mesmo que de forma inconsciente – como gostaríamos de ser ou o que gostaríamos de ter. E isso é extremamente fundamental para que possamos orientar ações e pensamentos em direção a transformações positivas; aliás, sem isso nunca teríamos chegado aonde chegamos. Porém, essa orientação de pensamento pode ter efeitos negativos quando não dosada corretamente. Vamos pegar as redes sociais por exemplo, se você abrir seu Instagram neste momento, quantas fotos você verá de pessoas comemorando um dia perfeitamente comum de trabalho? Ou postando algo sobre uma leve tristeza ao final do dia sem nenhum motivo aparente? Talvez você veja algum post desses, mas tenho certeza de que está longe de ser a maioria. Não é verdade?

Redes sociais são feitas para exaltar o que é diferente, o muito bom ou muito ruim, o muito belo ou muito feio. E já parou para pensar quem faz e quem consome rede social? Claro, nós mesmos! Mas esse ainda não é o ponto que quero te trazer. Com esse incentivo para ser diferente, próspero, lutar por causas, amar-se intensamente, ou seja lá o que for, começamos a ter a tendência de nos associar com o que valorizamos e repudiar o que não cai bem nas redes sociais. Sem perceber que quase tudo que somos de verdade nunca caberia em um post. Sei que o exemplo de redes sociais talvez não se aplique imediatamente a você – até porque simplesmente por estar lendo esse boletim eu sei que você é alguém que pensa sobre isso -, mas queria te convidar e ver como isso se estende a todos tipos de conversas, relacionamentos, pensamento, etc, onde mostramos uma face mas escondemos a outra de nós mesmos.

No coaching uma das ferramentas clássicas é a definição do ponto A (onde estamos) e o ponto B (onde queremos chegar); utilizada para criar um plano de ação. Na minha experiência vejo que o maior problema não é não saber o ponto B, mas sim não conhecer o ponto A. Passamos pouco tempo apreciando quem somos de verdade; estamos sempre querendo chegar a um lugar novo, diferente, mais prazeroso, etc, sem perceber que 99% do ponto B está contido no ponto A. Você pode mudar de casa, de carro, de emprego, de país e mesmo assim seu corpo, seus pensamentos, tendências, opiniões irão se manter muito parecidos.

A lição nesse tópico é: saiba diferenciar o que são suas expectativas de quem você é como ser humano. Não negligencie uma parte de quem você é só porque não faz parte da sua expectativa para o futuro. Tudo é você.

Tudo é belo quando visto pelo prisma correto

Existe um conto Taoísta clássico que sempre ouvi, em diversas versões, sobre como é a mudança de perspectiva. Resumidamente, é algo assim:

Um fazendeiro tinha um cavalo muito útil e admirado, do qual todos diziam: “que sorte você tem de ter esse cavalo!”. Um dia o cavalo fugiu e todos disseram: “Que azar!”. Logo depois o cavalo voltou com outros três cavalos selvagens, e todos disseram: “Que sorte ter três novos cavalos!”. O filho do fazendeiro foi montar em um dos cavalos selvagem, caiu e quebrou a perna, disseram: “Que azar esse cavalo trouxe!”. Logo depois, estourou uma guerra e todos os jovens foram chamados pelo exército, menos o filho do fazendeiro que estava com a perna quebrada; todos disseram: “Que sorte ele estar com a perna quebrada!”.

A forma com que vemos o mundo depende da referência com que comparamos. Por isso, temos o ditado popular: “Era feliz e não sabia”; porque muitas vezes só percebemos o que tínhamos quando perdemos. Por que será que fazemos isso? Bem... isso pode ser explicado também como um mecanismo evolutivo, que nesse momento, com uma sociedade com supermercado, carros, casas e internet, causa mais problemas que gera soluções.

Qualquer celular que você compre hoje tem muito mais capacidade e tecnologia que o celular mais caro de 5 anos atrás. E mesmo assim podemos nos pegar obcecados para ter o celular mais novo, ignorando que ficará velho em breve. Como pode algo ser o máximo em um momento e desprezado alguns anos depois? Como pode algo que não existia há poucos anos, tornar-se tão indispensável ao ponto de guiar nossos pensamentos em grande parte do tempo. Hoje em dia, grande parte de nós tem um ataque de ansiedade se for forçado a ficar um dia sem WhatsApp.

Vivemos em uma sociedade de comparação onde o que importa é a diferença entre o que eu tenho e o que o outro tem. Essa medição relativa, faz com que todos nós percamos de vista a medida absoluta, ou seja, todo nosso valor e capacidades do zero até onde estamos. Você tem hoje mais acesso e conforto que o maior do maior dos reis de 200 anos atrás. Como eu sei? Você está lendo esse boletim. O que realmente importa já está dentro de cada um. Platão escreveu textos magníficos que são referência até hoje e não tinha sequer uma máquina para datilografar.

A lição aqui é: deixe um pouco de lado o mundo relativo (da comparação) e se aproxime do absoluto (quem você é, independentemente de qualquer outra coisa). Não é porque você não tem X, Y ou Z, que você deixou de ter A, B, C, D, E, F etc.


Minha nota:

Esse boletim foi um pouco mais extenso que os outros porque eu estava com saudades de escrever para você. =D

Decidi começar enviar o boletim na segunda-feira, por isso, a partir de agora você poderá contar com ele para começar sua semana! Muito obrigado por estar aqui comigo! Até a próxima segunda.


Quer entrar para minha lista e receber o boletim #CONSCIÊNCIA no seu email assim que sair? Inscreva-se em: adrianosugimoto.com.br é de graça!

Muito obrigado.

Um forte abraço.

E tchau!

Anterior
Anterior

Quem é o responsável pelo que sinto?

Próximo
Próximo

A relação entre prazer, dever e expectativa